segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Street Punk



Como a formação do próprio nome diz, o street punk é na essência o punk rock das ruas, ou seja, aquele punk rock livre dos modismos que dominaram boa parte das bandas punks no final da década de 70, atraídas pela possibilidade de fama e fortuna, principalmente em mercados com o dos EUA.

Enquanto bandas como Sex Pistols, Generation X e Buzzcocks se popularizavam, viravam a coqueluxe e começavam a se transformar em produtos nas mãos de empresários gananciosos, nascia nos extremos de Londresum novo levante que pretendia fazer com que o som feito pelos punks fosse realmente a "voz das ruas", daí o nome street punk, que era a denominação do punk "raíz", um punk mais arruaceiro, típico dos pubs ingleses.


Bandas tipicamente punks como o UK Subs, Slaughter & The Dogs, Anti Nowhere League, 999, The Crack, Lurkers, Vice Squad e até mesmo (e principalmente) The Exploited, faziam a trilha sonora deste som das ruas, que logo sofreria algumas influências, se consolidando como street punk.

Entre 1978 e 1979, era chegada então a hora e a vez da safra de ouro do street punk, ou seja, a época do nascimento, ou mesmo aparecimento, de bandas como Cockney Rejects, Sham 69, Cock Sparrer, Peter & The Test Tube Babies, Menace, Angelic Upstarts, 4 Skins, The Business, Last Resort, Blitz, Infa Riot, Red Alert, Partisans, entre outras.

O street punk tradicional é apolítico, como deveria ser toda a cena punk. Nem esquerda nem direita. O street punk é um estilo de vida, é algo de muito real pois lida com o dia-a-dia, tem a ver com as ruas, com o trampo, camaradagem, união, estar alerta para o que nos rodeia e odiar política. Mas isso tudo hoje nada tem a ver. Uma pessoa comum pode muito bem curtir street punk somente pelo som e pela energia dos shows, que no caso das bandas de street punk, são sempre muito alucinantes e agitados.

O street punk também foi muito associado aos skinheads e isso resultou numa salada musical e ideológica realmente infernal. Voltando um pouco na história, no final de 77, começo de 78, temos um racha no punk, semelhante ao que houve no mod nos anos 60: parte do movimento segue um direcionamento mais "artístico" (originando o pós-punk, new wave, gótico, etc), e outros pegam mais o lado agressivo, rueiro e suburbano (o "street punk", mais tarde apelidado de "Oi!"). Essa leva de punks mais "crus", têm como guia o Sham 69. Jimmy Pursey, vocal do Sham, era skin no começo dos anos 70, e a banda tinha um grande público skinhead. Desta forma, começa a se multiplicar uma nova geração de skins, influenciados pelo punk e ouvinte de punk rock, com um visual menos bem arrumado do que os skins originais. Os skins "tradicionais" diziam que estes eram apenas "punks carecas", pois não tinham noção alguma sobre as tradições do skinhead.


De um outro lado, nascia na Inglaterra o "skinhead nazista", tão conhecido pelo mundo todo. No entanto, a maioria dos skins continuava sem um direcionamento político definido, longe dos fascistas. Sabe-se que nesta mesma época (1979), havia uma turma de skins em Londres chamada "S.A.N."- "Skinheads Against Nazis", que queria eliminar a influência dos neo-nazistas. Bandas de punk rock com membros skins, como os Angelic Upstarts, eram assumidamente esquerdistas e se opunham ao National Front (Partido Nacionalista Inglês) com veemência!


Mas como é de costume, a mídia sensacionalista começava a chamar todo skinhead de nazista, e o que é pior, todo jovem nazi de "skinhead". Com isso, a extrema direita só conseguiu novos adeptos e os skins "white power" (poder branco) aumentam em tamanho e importância. Mas mesmo assim estavam longe de ser maioria. Em 1980, o punk estava em baixa, tendo sido transformado em new wave e vendido em butiques. Mas nos subterrâneos, muitas bandas de "punk real" estavam na luta. A maioria delas era influenciada pelo Sham 69 e outras bandas street, faltando apenas um nome para uní-las.



Eis que o jornalista Garry Bushell, chama este novo movimento de "Oi!", por causa da música dos Cockney Rejects "Oi! Oi! Oi!". O Oi! tinha como ideal ser uma revitalização do punk agressivo, realista, das ruas, sem a comercialização e a suavização da new wave. Era a música que segundo Bushell, unia "punks, skins e toda a juventude sem futuro". Logo organizaram a primeira coletânea Oi!, com os Cockney Rejects, 4 Skins, Angelic Upstarts, Peter & the test Tube Babies, Exploited e outras bandas, formadas por punks, skins e "normais".


Foram feitas várias outras coletâneas Oi! a partir daí, e muitas bandas apareceram. Então, apesar de no Brasil as pessoas pensarem que Oi é "som de careca", ou que bandas Oi devem ser de direita, isto não passa de preconceito. O Oi! nada mais é do que um estilo de punk rock de volta às raízes, mais ligado à rua, ao realismo social. Nada a ver com à extrema direita. A maior prova disso é a adesão original de bandas como os UK. Subs ao Oi!, e o fato do The Business (uma das maiores bandas Oi), tocar um cover do Crass, banda ícone dos anarcopunks, eternos rivais dos skins fascistas!

Enfim, a grande maioria das
bandas ou era de esquerda ou era apolítica. Entre as bandas Oi originais, não havia nenhuma que fosse nazi.

O que denigriu o street punk? Teria sido a banda Skrewdriver?

Com os Skrewdriver surge a primeira banda oi! convertida em nazi e assim o chamado white power. Então em 1981 resolve-se organizar um concerto para provar que o oi! não tinha nada de fascista. As bandas eram 4 skins, Last Resort e the Business, mas tudo correu mal e depois de um turco esfaqueado acabou tudo num caos entre skins e a policia. Mais uma vez a imprensa colocou nas primeiras páginas os skins como sendo nazis...algo que se foi tornando habitual. Nos anos 80 nada de muito importante a realçar. Surge a S.H.A.R.P. (skinheads against racial prejudice - skinheads contra o preconceito racial),uma rede mundial de skinheads anti-racistas que foi levado para Inglaterra por Rody Moreno, vocalista da banda oi! The Oppressed. Hoje em dia há sessões da SHARP por todo o mundo. Mais recentemente surgiu também a R.A.S.H.(Red and Anarchist Skinheads - skinheads vermelhos e anarquistas).

Skrewdriver

(Skrewdriver em sua época punk)

Calma, não se desesperem! Antes de se tornar o maior instrumento de propaganda nazista depois de Goebbels, o Skrewdriver foi uma excelente banda de punk rock sem nenhuma inclinação política definida. No começo a banda ainda tocava um característico punk rock com influências claras do rock inglês dos anos 60 (Stones, The Who). Letras sobre brigas de rua (street fight) e até uma contra as drogas ("You´re So Dumb"). Nem preciso dizer que a elite punk londrina não foi muito com a cara deles, imagine, uns caipiras do norte falando mal de heroína, onde já se viu... Enfim, muito diferente do Hard Rock de letras nazis que os deixou famosos.


O Skrewdriver (cujo vocalista Ian Stuart Donaldson havia sido skin nas antigas, como Jimmy Pursey) fez o caminho inverso ao Sham 69, e conforme viram os skins ressurgindo e o punk se enchendo de posers, rasparam a cabeça se tornaram a primeira banda 100% skinhead. Adivinhem o que aconteceu? Não conseguiram mais tocar em lugar algum e foram demitidos da gravadora. Frustrados, em 78 fizeram as malas e voltaram para sua cidade natal, Blackpool. Em 79, reagruparam a banda em Manchester e lançaram o EP "Built Up, Knocked Down", e após alguns shows pela cidade, a fama de direitista acabou com a banda novamente em 1980. É bom lembrar que até aí o Skrewdriver não era ligado a nenhuma organização política, e se os membros da banda tinham alguma posição ideológica, ela não aparecia nas letras e não era ligada à banda em si.

Pois é, mas novamente desgostoso com a vida, após mais um fracasso, Ian Stuart voltou mais uma vez para sua cidade natal, onde entrou no National Front (partido fascista britânico), e ficou militando por uns tempos até o retorno definitivo do Skrewdriver, já como uma banda que vestia a camisa do N.F. No início de 82, de volta a Londres a banda lança o EP Back With a Bang. Os rumores sobre as ligações perigosas com o National Front aumentam, até que após adicionar no set músicas como "White Power" (Poder Branco) e Smash The I.R.A. (Esmague o I.R.A.), a banda confirma as suspeitas de todos e se torna assumidamente nazi. Parece que os membros originais da banda (alguns dos quais eram esquerdistas militantes) não ficaram muito contentes com a virada...

A partir daí o Skrewdriver se enfiou cada vez mais no gueto clandestino da música neo-nazista (de organizaçõs como White Noise e Rock Against Communism), se afastando do Oi! em todos os sentidos, tanto ideologicamente (a banda era agora um instrumento de propaganda direitista), quanto musicalmente (cada vez mais o hard rock e as baladas vão tomando conta do som). Até sua morte em 1993, Ian Stuart foi uma espécie de novo Hitler para legiões de Skins Nazis (chamados de Boneheads pelos skins anti-nazis) pelo mundo afora, e a banda se torna uma das responsáveis pela proliferação desse bizarro tipo de skinhead. Difícil acreditar que no começo o Skrewdriver fora uma simpática banda punk...

Trechos retirados de um texto escrito por Marcio Faveri.

5 comentários:

Watson disse...

po. da hora, mano. ficou foda o post.

Guilherme disse...

excelente post!

Jessica Barra disse...

me surpreendi agora com essa

Billy disse...

é senhores, ficou faltando algumas coisas aí, mais o principal foi dito
;)

Anônimo disse...

Caras adorei o blog! Seria ótimo c a grande maioria dos skins fizesse o mesmo. Esclarecimento é do q precisamos. Só tenho pena daqueles q c dizem punks e ñ conhecem a subcult skinhead e ficam chamando-os d nazistas...c/tantas fontes d informação hj em dia.